“Não só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,1-11)

A liturgia do primeiro Domingo da Quaresma apresenta-nos Jesus a ser tentado no deserto. Jesus enfrenta a tentação. Ele viveu o mesmo que nós vivemos. Ele quis viver, na sua própria carne, as mesmas tentações, para que nas nossas tentações possamos aprender, com Ele, a sair de aí. Ele vive em nós, e por isso no meio da tentação podemos deixá-lo actuar em nós. Ele fez-nos carne da sua carne, uniu-nos a Ele e n’Ele saímos vencedores cada dia.
Senhor, Tu foste até ao deserto e assim pudeste experimentar, a fundo, o que significa a tentação. Nós no deserto da vida- ou seja, nos momentos onde não vemos o fruto da nossa entrega, em que tudo é árido, ou quando não sentimos a bondade frente ao mal que nos rodeia, ou quando sentimos o fracasso- nesses momentos sentimos fome de Ti. Sentimos fome de sermos compreendidos, de ver os êxitos, de sentir que o que fazemos tem futuro ou que serve para alguma coisa. Nesses desertos, Senhor, somos tentados e, Tu és tentado connosco.

A Igreja, este ano, convida-nos a aprofundar no baptismo. Uma das partes da celebração deste sacramento é a renúncia a todas as seduções do mal e a afirmação da nossa fé e confiança somente em Deus. Este é o sentido de escutar e orar as tentações de Jesus no deserto. No deserto, Jesus, foi tentado com toda a humanidade e, aí Ele renunciou a todas as seduções do mal e afirmou a fé, e é nessa afirmação de Jesus onde nós nos apoiamos.
Senhor, nós somos tentado todos os dias, e por vezes nem nos apercebemos, somos tentados com subtileza. O nosso desejo é amar a todas as pessoas, no entanto, há momentos onde, internamente, pensamos que somos melhores do que os outros. Senhor, outra tentação é a de querer ter mais do que os outros: mais inteligência, mais bens, mais coisas... Mas a tentação mais forte que vivemos diariamente é a de nos apoiarmos em nós próprios e desconfiar de Ti. Sim, esta é a maior tentação, sobretudo quando o mal nos toca, quando vivemos a doença de um ser querido, ou quando as coisas nos correm mal, ou quando sentimos a critica por seguir-te. Aí Jesus somos tentados como Tu no deserto. Por isso, queremos acudir a Ti com um coração simples que te pede as forças para continuar a confiar em Ti.
Senhor, uma das coisas que meditamos neste tempo é: que somos pó. Ou seja, somos pequenos e frágeis, e que diante das tentações ficamos desarmados. Só o apoiar-nos em Ti nos capacita para vencermos cada dia, pois Tu ao deixares que fosses tentado abris-te para nós a possibilidade de vencer contigo e em Ti. É Cristo quem luta em nós e, quem nos dá as forças, o ânimo e a vitória. Como nos diz no Ofício de Leituras deste Domingo, com um texto de Santo Agostinho:
De facto, a nossa vida, enquanto somos peregrinos na terra, não pode estar livre de tentações, e o nosso aperfeiçoamento realiza-se precisamente através das provações. Ninguém se conhece a si mesmo se não for provado, ninguém pode receber a coroa se não tiver vencido, ninguém pode vencer se não combater, e ninguém pode combater se não tiver inimigo e tentações.
Está em grande aflição Aquele que dos confins da terra faz ouvir o seu clamor, mas não será abandonado. Ele quis prefigurar-nos a nós que somos o seu Corpo; quis prefigurar-nos naquele seu Corpo em que já morreu e ressuscitou e subiu ao Céu, para que os membros esperem confiadamente chegar também aonde a Cabeça os precedeu.
Portanto, o Senhor transfigurou-se em Si, quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que o Senhor Jesus Cristo era tentado pelo demónio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque Ele tomou para Si a tua condição humana, para te dar a sua salvação; para Si tomou a tua morte, para te dar a sua vida; para Si tomou os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, para Si tomou as tuas tentações, para te dar a sua vitória.
Se n’Ele somos tentados, n’Ele vencemos o demónio. Se te fixas no facto de Cristo ter sido tentado, considera também que Ele venceu. Reconhece-te tentado n’Ele, reconhece-te n’Ele vencedor. Bem poderia Ele ter mantido o demónio longe de Si; mas se não fosse tentado, nã teria ensinado a vencer a tentação”.
Senhor, dá-nos a graça para viver acreditando que somos tentados em Ti e, que em Ti podemos vencer todos os dias, porque Tu és Aquele que actua em nós e, por isso, o bem tem mais força do que o mal.
2ª feira: (Mt 25,31-46) “Vinde vós, os abençoados por meu Pai (...) Pois estava com fome, e destes-Me de comer (...)”
Senhor, Tu passaste pela dificuldade de não ter nada para comer, sentiste fome. Hoje chamas de abençoados do Pai aqueles que reconhecem a Tua necessidade. Tu necessitas que Te cuidemos. Por vezes caímos na tentação de pensar que somente nós é que temos necessidades, no entanto, há tantas pessoas que necessitam da Tua Palavra, do Teu consolo, da nossa vida. Quantas pessoas não têm o mínimo para viver! Nós, Senhor, sem queremos ou por debilidade esquecemo-nos dos necessitados. Mas Tu não te esqueces e, identificas-te com cada um deles e, necessitas que nós te reconheçamos em cada irmão necessitado. Dá-nos um coração atento para que, neste dia, não caíamos na tentação da indiferença, senão que descubramos o Teu rosto nos mais necessitados.
3ª feira: (Mt 6,7-15) “(...) Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal (...)”
Hoje a Liturgia recorda-nos a oração do Pai Nosso. Jesus rezou e continua a rezar connosco esta oração, e pede ao Pai para que não caíamos na tentação de acreditar que somos melhores do que os outros. Ele pede que perdoemos de coração, porque somos perdoados pelo Pai cada dia. Senhor, há momentos na vida onde somente vemos o negativo e nos queixamos- dos defeito dos outros, das faltas de amor e delicadeza- e, aí não há em nós um coração simples para reconhecer que, também, nós necessitamos de amadurecer no amor. Senhor, livra-nos da tentação de apontar com o dedo os outros.
4ª feira: (Lc 11,29-32) “ Esta geração busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não o sinal de Jonas”
Senhor, esta tentação também hoje a vivemos, pois quantas vezes te pedimos sinais, que Tu te manifestes de mil maneiras, que nos tires as situações difíceis. Senhor, confundimo-nos no caminho do seguimento, pensamos como as pessoas da tua geração, que por seguir-te tu no irias libertar de todos os males, e Tu continuas a dar o mesmo sinal: o sinal da Tua morte e ressurreição. Dá-nos, Senhor, um coração simples para que esta tentação não nos afaste de Ti.
5ª feira: (Mt 7,7-12) “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas aos que Lhas pedirem!”
Esta leitura fala-nos de outra tentação: pensarmos que a nossa oração não é escutada. Na oração pedimos a Deus e, na vida duvidamos se recebemos ou não o que lhe pedimos, sobretudo, quando as coisas correm como não esperávamos. Esta é uma das tentações com que nos confrontamos diariamente: será que Deus se lembra de mim? Será que a minha vida lhe interessa? Será que me escuta?
Senhor, aumenta-nos a fé para podermos vencer esta tentação. Ajuda-nos a acreditar que Tu desejas sempre o melhor para nós, ainda que não vejamos que se cumpre o que pedimos. Ensina-nos a acreditar que Tu podes realizar as coisas muito melhor do que nós possamos pedir ou pensar.
6ª feira: (Mt 5,20-26) “Se fores até ao altar para levares a tua oferta, e aí te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a oferta aí diante do altar e vai primeiro fazer as pazes com o teu irmão; depois, volta para apresentar a oferta”
Jesus, por vezes esquecemo-nos destas palavras, e aparecemos junto de Ti sem reconciliar-nos com o irmão. É a tentação de separar-Te dos irmãos, de viver a relação contigo separada da relação com os outros. Tu desejas que possamos integrar estas duas realidades, como diz S. João: “Se alguém diz: “Eu amo a Deus” e, no entanto odeia o seu irmão, é mentiroso”. Senhor, se hoje recordarmos que há alguém que se queixa de nós, ajuda-nos a aproximar-nos dele e a pedir-lhe perdão.
Sábado: (Mt 1,16.18-21.24) “Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado”.
Neste caminho da quaresma encontramo-nos com a festa de S. José. José, também, viveu as tentações, sobretudo, a tentação de duvidar que Deus lhe podia confiar a Sua própria vida. Nós, como José, também vivemos o mesmo, não chegamos, por vezes, a reconhecer a manifestação de Deus. No entanto, José deixa-se levar pelo o que lhe disse o Anjo do Senhor e, faz a Sua vontade.
Senhor, livra-nos da tentação de fazer a nossa vontade e, dá-nos um coração simples para realizar a Tua vontade todos os dias. S. José que a Tua vida e o Teu exemplo nos ajudem a fazer a Sua vontade.

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